Abertura à transversalidade da Pneumologia é o mote deste congresso que se prevê multidisciplinar e onde são bem-vindos todos os que dedicam a sua atividade profissional à abordagem do doente respiratório. Serão três dias de debate intenso sobre as várias áreas da Pneumologia, com sessões específicas para a Medicina Geral e Familiar, onde não faltará a aproximação à investigação básica que, segundo o Prof. António Morais “não pode continuar afastada”. Segundo o presidente da SPP, o laboratório e o consultório devem estar mais próximos em nome da evolução de uma especialidade que abarca um número tão vasto de doentes.

Quais as expectativas para o 35.º Congresso de Pneumologia e 1.º Congresso Luso-PALOP de Pneumologia?
Prof. Doutor António Morais (AM) - As expectativas são de continuar o excelente trabalho que tem sido feito nas últimas edições. O congresso tem tido um crescimento contínuo, quer a nível da participação, quer da submissão de trabalhos. É nossa obrigação continuar esse caminho, tentado reforçar essa mesma evolução. Por outro lado, este ano temos como lema a abertura. As doenças respiratórias são diversas e muitas delas têm uma elevada prevalência e implicam um envolvimento multidisciplinar. É por isso que pretendemos que este seja um congresso aberto a todos os que, tal como nós, tratam doentes respiratórios. A Medicina Geral e Familiar tem aqui um papel central, uma vez que são os profissionais dos Cuidados de Saúde Primários que fazem a primeira abordagem ao doente. Tem que haver uma relação muito próxima e uma cooperação eficaz para que os doentes respiratórios tenham a melhor abordagem possível.

Estão previstas, neste congresso, sessões especialmente dirigidas aos especialistas de MGF?
AM - Exatamente. Esta é mais uma forma de aumentarmos a proximidade com os Cuidados de Saúde Primários. A grande maioria dos doentes respiratórios pode ser avaliada e monitorizada pelo seu médico de família, que deve estar apto para identificar, diagnosticar e tratar essas doenças respiratórias. Da mesma forma, deve estar apto para fazer a referenciação para uma consulta mais diferenciada em casos que assim o exijam. É muito importante que haja uma boa articulação entre os CSP e os cuidados hospitalares porque o reverso também acontece, ou seja, um doente que é seguido no hospital pode, a determinada altura, ficar em condições de voltar a ser seguido nos CSP, mantendo apenas consultas episódicas de Pneumologia.
Tudo isso só é possível se as pessoas se conhecerem e falarem diretamente.

Além de ser um congresso aberto a outras especialidades, é também uma reunião que vai acolher colegas de outros países e até de outros continentes. É o 1.º Congresso Luso-PALOP.
AM - A relação com os países de língua portuguesa é incontornável, esta relação é constante porque falamos a mesma língua, temos um processo histórico mais ou menos conturbado, mas feito em conjunto. A relação surge no sentido de perceber qual é a melhor maneira de percorrermos o caminho daqui para a frente. Na sessão de abertura teremos a participação do Dr. Arlindo Chilumbo, presidente da Associação Angolana de Pneumologia, que nos irá apresentar os problemas inerentes da sua realidade. Estarão naturalmente colegas representados nas mesas, nomeadamente nas sessões sobre infeção respiratória que é a primeira preocupação, dada a elevada morbilidade e mortalidade a que está associada nesses países.

Há diferenças epidemiológicas entre as duas realidades?
AM -
Há diferenças muito significativas. Angola é um país que teve uma guerra civil recente e, obviamente, que quando isso acontece há uma desorganização enorme e problemas gravíssimos de apoio dos cuidados de saúde às populações. Não é comparável com a nossa realidade. Em termos epidemiológicos, na Europa estamos mais focados nas doenças respiratórias crónicas, nomeadamente na DPOC e no cancro do pulmão, embora em Portugal tenhamos uma realidade um pouco diferente, já que a pneumonia continua a ser a principal causa de morte respiratória.

O que se ganha com este intercâmbio de conhecimentos e esta partilha de diferentes realidades?
AM -
O ponto de partida é a amizade natural de pessoas que falam a mesma língua e que acabam por criar uma ligação fácil umas com as outras. A Pneumologia portuguesa pode ganhar muito com este intercâmbio porque é uma realidade muito diferente, principalmente do ponto de vista da infeção. Existem muitas características completamente diferentes do nosso panorama, do ponto de vista formativo e até da forma como se pode organizar um serviço de saúde num terreno que está um pouco fragilizado e até hostil.

Em termos temáticos quais vão ser as grandes novidades deste Congresso?
AM- O congresso tem a sua principal componente formativa e de discussão daquilo que é mais consensual. Através dessa discussão, procuramos novos caminhos para a abordagem do doente. A Pneumologia tem sido alvo de grande inovação em termos terapêuticos, nomeadamente, na asma grave e no cancro do pulmão. Além disso, existem novas linhas de orientação em áreas como as doenças do interstício ou as bronquiectasias. Também nestas áreas temos novas armas para conseguir melhorar a vida dos doentes. Sob esse ponto de vista, estamos a atravessar uma altura muito cativante e muito estimulante que terá reflexo no programa do Congresso.
Por outro lado, este ano vamos dar especial destaque à memória e à história daqueles que mais contribuíram para o avanço da especialidade no nosso país. No primeiro dia do Congresso vamos apresentar o livro em memória do Prof. Thomé Villar, que foi o primeiro presidente da SPP e um dos principais pioneiros da Pneumologia moderna.
Tentaremos também, nesta reunião, aproximar a Pneumologia da investigação. Vivemos muito em função das necessidades clínicas e, infelizmente, a investigação acaba por estar mais presente no início da carreira do médico pneumologista, tendendo a perder-se ao longo do tempo. Temos de contrariar isso. A Pneumologia é tão vasta e dispomos de tantos dados por explorar que é um desperdício se não nos dedicarmos ao estudo desses dados.

Considera que há condições, dentro das instituições para a investigação desses dados?
AM
- Temos serviços com doenças muito diversificadas, muitas vezes graves, crónicas, com mau prognóstico e que são desafiantes e exigem conhecimento para as tratar de forma mais adequada. Temos também serviços com muitos doentes, isto é, com material suficiente para promover a investigação e interrogo-me porque é que ela não existe. Considero que é por excesso de trabalho, por uma maior direção para a prática clínica e, para mim, o mais determinante é a falta de ligação às ciências básicas. Se nós conseguirmos captar os investigadores para as doenças respiratórias, eles é que vão fazer a investigação, nós temos a parte clínica do projeto, mas a investigação vai-se sucedendo. Temos de dar início a essa linha de investigação. Queremos começar a ter, no Congresso, sessões dessa índole de forma a procurar uma maior proximidade entre a pneumologia e a investigação básica. Neste momento, não há qualquer ligação relevante e frutífera.

Cursos pós-congresso

Este ano vamos ter seis cursos pós-congresso, isto reflete a importância que a SPP continua a dar à formação contínua dos especialistas em áreas completamente distintas?
AM - A saúde respiratória não está confinada à Pneumologia e, neste sentido, tem de partir de nós a iniciativa de formar os profissionais de saúde que são nossos parceiros na abordagem dos doentes respiratórios. Sejam os colegas da MGF, sejam fisioterapeutas, radiologistas, enfermeiros ou técnicos de cardiopneumologia. Ao longo de 2019 realizámos quatro Escolas de Pneumologia, todas elas muito procuradas e, em alguns casos, nem conseguimos incluir todos aqueles que desejavam inscrever-se. Isso representou um esforço significativo por parte da SPP, mas que foi perfeitamente gerido. Em 2020, esperamos realizar seis Escolas de Pneumologia.
Os cursos pós-congresso surgem no seguimento dessa procura por formação em áreas tão abrangentes como a asma, a espirometria, o cancro do pulmão, o tabagismo, a ventilação e infeções respiratórias. Este ano abrangemos áreas muito importantes, nas quais é necessário manter uma posição forte por parte da Pneumologia.

Que balanço faz deste primeiro ano de direção da SPP?
AM -
Queremos sempre fazer mais do que aquilo que fizemos, no entanto, dos objetivos aos quais nos propusemos quando assumimos a direção, quase todos eles iniciaram. No primeiro ano o importante é começar a andar e nós começámos tudo. Aumentamos o número de escolas, a Sociedade teve uma maior visibilidade na opinião pública, nomeadamente, na participação nos órgãos de comunicação social que teve uma evolução exponencial e isso é inegável. As Comissões de Trabalho tiveram todo o apoio, tal como nas outras direções. Mas começamos agora a explorar novas áreas em relação às quais temos estado distanciados. É o caso do impacto da poluição e das alterações climáticas na saúde respiratória. No dia 30 de novembro, em parceria com o Jornal Expresso vamos organizar uma conferência com palestrantes nacionais e internacionais para discutirmos precisamente essa relação entre a saúde e o ambiente.
A Pulmonology tem tido também a sua evolução. Com a mudança da equipa editorial fizemos um upgrade no sentido da sua internacionalização e maior visibilidade.
Ambicionamos manter esta evolução em 2020 que será, em princípio, o ano em que daremos início a um grande estudo epidemiológico sobre a DPOC.
Por sua vez, as Comissões de Trabalho estão muito estimuladas para criarem documentos de como o trabalho deve ser organizado segundo as várias áreas abrangidas pela Pneumologia. Isto é uma forma de certificar as diversas funções da Pneumologia e de criar condições para que estas sejam feitas de acordo com as melhores práticas. Espero que os frutos deste trabalho possam ser colhidos nos próximos anos e que o caminho que hoje estamos a construir nos leve à melhoria dos cuidados que prestamos aos nossos doentes. Na verdade, esse tem de ser sempre a nossa principal missão.

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