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“O pulmão e o ambiente” foi o mote da conferência internacional, que decorreu no passado sábado, 30 de novembro, no Centro Cultural de Belém. Esta reunião, organizada pela Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP), em parceria com o Jornal Expresso, reuniu quase uma centena de participantes e dezenas de especialistas que debateram o impacto da poluição ambiental e das alterações climáticas na saúde respiratória, assim como as profissões que envolvem um maior risco de desenvolvimento de patologia respiratória ocupacional.


Com hora marcada para as 09.00 da manhã, a conferência “O Pulmão e o Ambiente”, moderada pela jornalista da SIC, Rita Neves, arrancou com a presença do senhor secretário de Estado da Saúde, Dr. António Sales, que reforçou que “a humanidade precisa de um ambiente com saúde”, sendo que a solução para estes problemas ambientais assenta “em políticas intersectoriais que passam por promover o acesso a energias de fontes não poluentes, reduzir o tráfego privado nas cidades e melhorar os transportes públicos”. Segundo o representante do Ministério da Saúde, os grupos de risco devem estar devidamente sensibilizados para os efeitos nocivos das alterações climáticas, sendo esta sensibilização da responsabilidade dos médicos.Este envolvimento por parte dos profissionais de saúde foi também salientado pelo Dr. Pedro Canas Mendes, representante da Ordem dos Médicos, que apelou a uma melhor articulação entre os setores da saúde e do ambiente e à necessidade de um envolvimento global da sociedade onde não podem faltar os governantes locais.


 “O pulmão é o órgão que mais diretamente está em contacto com a poluição ambiental, qualquer alteração relativamente ao ar puro tem implicações a nível respiratório”, explicou o Prof. Doutor António Morais, presidente da SPP. Não é, por isso, de estranhar, que os principais efeitos da poluição se reflitam, em primeiro lugar, no aparelho respiratório.  E, embora Portugal esteja entre os dez países que apresentam melhor qualidade do ar – dados de um relatório da Agência Europeia do Ambiente - são registadas, todos os anos, mais de seis mil mortes prematuras resultantes da poluição atmosférica, associada a doenças respiratórias e cardiovasculares. Segundo a Dr.ª Filipa Marques, da Associação Portuguesa do Ambiente (APA), uma das oradoras da conferência, os fatores que representam maior risco para a saúde pulmonar são “as emissões de gases poluentes no tráfego aéreo, fluvial e rodoviário”.

Na capital Lisboeta existe uma elevada concentração de partículas e gases poluentes em Zonas de Emissões Reduzidas (ZER) como é o caso da Avenida da Liberdade que, segundo a Dr.ª Margarida Lopes, investigadora da Universidade Nova de Lisboa, “ultrapassa sistematicamente o valor limite imposto pela legislação” o que é resultado direto da elevada afluência de trânsito que tem vindo a aumentar como resultado do crescente interesse dos turistas por Lisboa. Também no Aeroporto Humberto Delgado os valores são “cerca dez vezes superiores aos recolhidos no centro”. Estes números são “alarmantes”, dada a proximidade a zonas habitacionais, um local de excelência para a libertação de partículas ultrafinas que, segundo a investigadora, “podem atingir rapidamente a corrente sanguínea e, através dela, qualquer órgão do corpo humano, sendo capazes de provocar doenças respiratórias, como a asma ou o cancro do pulmão, mas também danos neurológicos”.


E como será nas zonas rurais?
Se achávamos que nas zonas rurais os níveis de poluição eram mais reduzidos, a Dr.ª Margarida Lopes explica que não é bem assim, sendo que as condições meteorológicas, juntamente com o vento, acabam por espalhar os gases poluentes e as partículas ultrafinas. “As concentrações mais elevadas de ozono fazem sentir-se em Trás-os-Montes, uma zona já bastante afastada dos centros urbanos”. Outro dos exemplos que utiliza é a navegação de navios de cruzeiro que, segundo estudos citados pela investigadora, emitem partículas ultrafinas capazes de atingir territórios até 400 quilómetros de distância.

O Prof. Doutor Carlos Borrego, professor de Engenharia Ambiental na Universidade de Aveiro, apresentou a sua perspetiva sobre as preocupações da poluição no mundo rural, onde destacou o pico dos incêndios de 2017, explicando que “as partículas emitidas pelos incêndios são as mesmas que emitidas pelos veículos e que se refletem, a longo prazo, com o compromisso da função pulmonar ou a hipersensibilidade das vias respiratórias”.

A representante da APA, Dr.ª Filipa Marques, garantiu que existem formas de reduzir a exposição aos gases nocivos, “através da mobilidade partilhada e sustentável, de maior cuidado na utilização de aquecimento doméstico ou pela escolha de locais afastados do centro para a prática de exercício físico”. A par disto, existem outras soluções que são da nossa inteira responsabilidade e das escolhas que fazemos no nosso dia-a-dia. “Só assim, com a ação coletiva e individual, será possível trocar o veneno invisível por oxigénio limpo e saudável”.

Mas se pensa que os perigos estão apenas no exterior, está enganado. Segundo o Dr. João Rufo, vários espaços públicos fechados têm também o ar contaminado. A começar pelas escolas: “A melhor forma purificar o ar é abrindo as janelas e deixar o ar circular dentro das salas de aula”, sublinhou o investigador da Universidade do Porto. Contudo, “hoje em dia, as nossas crianças passam os dias enfiadas em verdadeiros submarinos”, acrescentou, referindo-se a salas de aulas que têm janelas que deixam entrar a luz, mas que nem sequer podem ser abertas para deixar entrar o ar”. Outro espaço bastante frequentado por crianças são as piscinas. E aqui, a realidade é ainda mais assustadora. “Aliás, quando entramos nas piscinas, sentimos sempre uma diferença na densidade do ar que respiramos. Às vezes até parece que sentimos dificuldade em respirar” porque, na realidade, há uma quantidade enorme de partículas tóxicas em circulação. Dentro de casa, há também um conjunto de comportamentos, aparentemente inofensivos, que contaminam o ar que respiramos. “Velas, aromatizantes, incensos e, claro, o fumo de cigarro” devem ser evitados em espaços interiores”, recomendou o especialista.


Doença respiratória ocupacional: “A prevenção é a pedra basilar”
A responsável de saúde ocupacional do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, Dr.ª Ema Leite, foi uma das palestrantes desta conferência internacional e deixou o alerta para a importante distinção entre os conceitos de doença profissional – diretamente causada pelo trabalho que desempenha –, doença agravada pelas condições laborais e da doença relacionada com o trabalho, uma vez que é importante percebermos se há uma relação direta entre a condição médica e a função desempenhada. “É raro termos um trabalhador que esteja exposto a um só risco”, e, neste sentido é importante que as empresas façam uma adequação do ambiente laboral – através da eliminação ou selagem de matérias tóxicos – e “apostem ainda na informação, bem como na formação dos trabalhadores para que estes possam ter uma postura defensiva e de prevenção na realização da sua atividade profissional”, reforçou a especialista.


No entanto, quando existe a identificação de uma doença diretamente relacionada com a atividade profissional, a solução desta não depende exclusivamente da entidade patronal, algo que as organizações devem ter em conta. Embora a legislação obrigue o empregador a requalificar o trabalhador, este nem sempre aceita a mudança das funções ou até mesmo de emprego.  A médica pneumologista do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Dr.ª Sara Freitas, elucidou que “a prevenção é a pedra basilar para diminuir as doenças respiratórias em ambiente laboral” e salientou que as melhores formas de prevenção passam pela alteração dos materiais utilizados de forma a que possamos reduzir, ao máximo, o impacto negativo na saúde dos trabalhadores.


Na qualidade de palestrante, o Prof. Doutor António Jorge Ferreira, da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, revelou a sua preocupação com a quantidade de casos de asma ocupacional e cancro pulmonar profissional, “doenças que são tradicionalmente associadas à profissão de mineiro”. No entanto, como motor para estas patologias sublinhou também a exposição ao fumo do tabaco que tem uma maior prevalência em países onde ainda não é proibido fumar no espaço de trabalho. “Curiosamente, um dos principais agentes de cancro profissional pulmonar a nível mundial é o fumo do tabaco passivo”, rematou.

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