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O cancro do pulmão encontra-se entre as 10 maiores causas de mortalidade, sendo a principal causa de morte por cancro em todo o mundo. O principal fator de risco é o tabagismo, responsável por cerca de 90% dos casos diagnosticados. Apesar de todas as campanhas de sensibilização acerca dos malefícios do tabaco, esta dependência mantém-se elevada, com cerca de 15% de indivíduos fumadores em Portugal.

“Continua a verificar-se uma taxa elevada de experimentação do tabaco em idades precoces nos jovens portugueses e se contabilizarmos os novos produtos com nicotina, como o cigarro eletrónico e o tabaco aquecido, a taxa de consumidores tem aumentado, observando-se inclusive em jovens de camadas mais diferenciadas a adesão a estas novas formas em detrimento do tabaco tradicional”, indica António Morais, presidente da SPP. E avança: “a sensibilização e a luta antitabágica são medidas cruciais de intervenção de saúde pública, que devem envolver a desconstrução dos mitos associados a estas novas formas de consumo, apresentados de forma errada com sendo menos prejudiciais para a saúde, nomeadamente respiratória”.

Por outro lado, um dos principais problemas no diagnóstico do cancro do pulmão é desenvolver-se de forma silenciosa e os sintomas surgirem já numa fase avançada da doença, nomeadamente quando já não é possível a recessão cirúrgica. Sempre que o doente sentir dor torácica, tosse seca persistente, expetoração hemoptoica (secreções com sangue), dispneia (falta de ar) ou sintomas como astenia ou emagrecimento deve procurar ajuda médica.

Como explica o Prof. Doutor António Morais, “quando ocorrem sintomas como tosse, expetoração hemoptoica ou dispneia, normalmente a lesão é central e, muitas vezes, tem uma localização que torna impossível a recessão cirúrgica, por prévia invasão das estruturas mediastínicas”. “Quando se verificam sintomas constitucionais, como astenia, anorexia ou emagrecimento, habitualmente o doente já se encontra com deterioração do estado geral, o que muitas vezes condiciona a possibilidade de um tratamento adequado dada a exigência dos tratamentos locais como a radioterapia ou sistémicos como a quimioterapia, imunoterapia ou as chamadas terapêuticas-alvo”, acrescenta.

Além disso, o processo de diagnóstico e estadiamento é hoje muito extenso e demorado. “O diagnóstico, efetuado habitualmente através da colheita de uma amostra histológica pela broncofibroscopia ou biopsia transtorácica guiada por TAC torácica, exige hoje não só o tipo histológico do tumor, mas igualmente a avaliação de uma série de marcadores relacionados com o tratamento, nomeadamente relacionados com a imunoterapia, ou com a pesquisa de mutações para os quais existem terapêuticas alvo.” Informação que, de acordo com o presidente da SPP, exige do ponto de vista laboratorial algum tempo para uma correta aferição desta investigação.

Por sua vez, o estadiamento necessário para a ponderação terapêutica requer a avaliação por tomografia emissora de positrões que é um exame efetuado em poucos locais, não sendo acessível na maior parte dos hospitais, levando a tempos de espera demasiado prolongados para a realização do mesmo. “Esta demora pode conduzir, em casos em que a dinâmica da doença é mais agressiva no sentido da sua progressão, a situações em que, aquando do estudo completo, o doente já tem um estado geral mais comprometido, não sendo possível equacionar todo o potencial terapêutico disponível, pela potencial toxicidade do mesmo.”

Em tempos de pandemia, o diagnóstico tardio é uma preocupação acrescida dos pneumologistas. “Os casos que nos chegam já em estádios avançados são mais frequentes, o que poderá traduzir um menor acesso aos cuidados de saúde nesta fase, e estes infelizmente, não são recuperáveis”, lamenta o presidente da SPP.

O Prof. António Morais sublinha ainda que “o cancro do pulmão é um enorme e multifacetado desafio, desde a sua prevenção, que envolve principalmente a luta contra o tabagismo, a sua deteção precoce, que passará em grande parte por programas de rastreio, e o seu diagnóstico em tempo adequado, que exige a implementação de vias verdes de cancro do pulmão para nenhum doente deixe de ter acesso às terapêuticas mais eficazes para o seu caso concreto”.

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